Eram quatro horas da manhã e eu sabia que não ia conseguir dormir de novo. Levei cerca de três horas para conseguir dormir e o sono não durava nem duas horas. Parecia um pesadelo, um misto de realidade com sonho inevitável e aquele fim de filme indesejável. Eu me viro pra um lado, para outro e me abraço no edredom, mas não adianta. Não é você.
Coloco a sua blusa debaixo do travesseiro para sentir que você ainda pode estar aqui por perto, e respiro fundo pro seu perfume entrar dentro mim, tomar conta de cada pedacinho do meu pulmão. Fecho os olhos e finjo você ali. Finjo eu ai. E ao mesmo tempo em que me sinto sua, não me sinto nada. Choro por medo que o perfume um dia suma e que eu não tenha mais aquele cheiro de blusa velha com desodorante e perfume paraguaio.
E então começa tudo de novo, vou montando um quebra-cabeça infinito, reunindo peças e diálogos do que eu poderia fazer no momento em que colocasse os pés no chão. Comprar uma passagem, colocar uma mochila nas costas e chegar lá sem avisar. Entrar no seu quarto deitar do seu lado e falar que te amo. Isso num dia, ou no outro. E os finais se alternam como um infinito RPG. Um dia é feliz, outro dia não.
E isso me mantém viva. Como conto de fadas árabe, contando histórias pra mim mesma, pra me manter viva. E sonho o dia todo, desde a hora em que não consigo dormir até a hora em que não consigo dormir de novo. E quando durmo, você vem. No sonho perfeito e real, comigo.
E quando acordo, me vem a vontade nauseante de nunca ter dormido. De acordar e não te ver ali. Pego o celular e procuro as mensagens que em um desespero apaguei. Quatorze dias que ele não toca, quatorze dias sem uma mensagem. E eu disco seu número e desligo, escrevo uma mensagem que nunca vou mandar. Choro mais algumas lágrimas e volto a dormir.
O choro me anestesia e acalma. A anestesia me deixa estática, apática e chata. Tranco a porta da casa, do quarto e me deito, querendo esquecer que eu existo, que você existe, ou que nós dois um dia existimos juntos. E de tanto pensar eu acabo imaginando que talvez sempre existimos juntos. E que não tem como existirmos separados.
E não adianta fazer nada pra não lembrar disso. Meu cabelo me lembra você, meu cheiro me lembra você, meu carro me lembra você, as músicas do rádio me lembram você, viver me lembra você. Vou me levantar agora e ir para onde, fazer o que? Não tenho vontade de existir, de me arrumar ou de comer. Só quero me trancar, mas me trancar também dói.
Tudo que eu faço essa dor não passa. Chorar, falar, gritar ou correr não levam ela embora. Eu vejo série na TV, escrevo texto, toco violão, leio um livro, abraço minha irmã, como brigadeiro…nada adianta. Meu cabelo está horrível, eu não tiro as sobrancelhas, não depilo as pernas, esqueço que existe maquiagem e uso a primeira roupa do guarda-roupa. Não tem porquê me arrumar, não tem porquê parecer linda e irresistível, porque não é pra você. E eu odeio me olhar no espelho, porque eu não sou mais a sua menina, a sua mulher, a sua motorista, a sua amiga, a namorada ciumenta, a amante insaciável.
Não tem porquê entrar no Orkut ou logar no MSN, você não vai estar lá. E se estiver, não vai ser mais o meu namorado. Não vai ser mais o meu amigo e não vai ser mais o MEU amor.
E todos falam a frase idiota do “vai passar”. Mas eu não quero. Eu não quero que isso passe. Eu quero poder te amar hoje e sempre. “Eu não quero saber que um dia vou ver você passar e não sentir cada milímetro do meu corpo arder e enjoar. É triste saber que um dia vou ouvir sua voz ou olhar seu rosto e o resto do mundo não vai desaparecer. O fim do amor é ainda mais triste do que o nosso fim”.
E eu choro até dormir, choro quando passo na frente do shopping, choro quando abro meu computador e as suas fotos estão ali. Choro quando meu celular não toca de noite, ou quando não apita avisando mensagem. Eu choro quando vou no banheiro do serviço. Choro quando vou jantar. Choro ainda mais quando chega sexta-feira. Choro quando mandei lavar o carro e achei aquela bexiga de coração que você roubou na pizzaria, no dia dos namorados. E choro porque eu tenho medo de um dia não lembrar da sua voz.
Me dá um nó na garganta, e uma sensação de ter engolido toda a dor do mundo pela boca. E não conseguir vomitar toda essa ânsia. Odeio as pessoas que riem, odeio as pessoas que saem aos sábados para se divertirem, odeio pensar que você nunca mais estará aqui e odeio pensar que fui eu quem escolheu tudo isso.
Eu tento calar a voz que vem dentro de mim e que diz o contrário, e me culpo mais um pouco por tudo que fiz e que não fiz e que poderia ter feito. Imploro por mais um beijo, por mais um abraço, por mais um sorriso e só por um milímetro do teu corpo. Rezo por uma máquina do tempo que me leve de volta ao dia em que te vi pela primeira vez e então viver cada segundo em “slow motion”, com a tecla “pause” e repetir mais cinco vezes cada dia, e repetir mais cinco mil vezes eu te amo.
sexta-feira, 3 de julho de 2009
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