Eu gosto de fazer aniversário. Eu realmente gosto de fazer aniversário. Não que haja alguma teoria inabalável para isso. Mas, na prática, eu gosto de fazer aniversário. Mesmo após 27 anos eu não canso de entoar o Ré Ré Mi Ré Sol Fá#. Meu namorado diz “você fica realmente feliz por causa de aniversário, é surreal!”.
Como uma pessoa pode gostar de ficar mais velha? Eu acho que é porque existe a tal magia do aniversário, aquela semelhante a tal magia do natal, sabe. Aquela sensação de uma data única que acontece somente uma vez no ano e que esperamos 365 dias para chegar.
Desde pequena eu gosto de aniversários, porque cheiram perfume com chocolate. Talvez um pouco do perfume da minha mãe com os brigadeiros feitos em casa. Mamãe dizia que dia do aniversário é dia em que se pode fazer de tudo e ninguém pode ficar bravo com você. O engraçado é que até hoje ela repete a tradição.
No dia do meu aniversário eu posso escolher o que vou almoçar o que vou jantar e onde vou fazer tudo isso. Podia ouvir música mais alto, andar de meia pela cozinha, comer bolacha na sala e ir dormir bem depois que a novela acabasse. Além de tudo isso, tinha a festa!
Era toda uma preparação antes da festa. Fazer a lista de convidados, escrever todos os nomes nos convitinhos. Ajudar o papai a encher as bexigas. Ajudar a mamãe a enrolar os brigadeiros com manteiga e açúcar. Arrumar o quarto e sala. Usar roupa nova. Já a decoração, era pintada à mão pela tia Sueli.
Os primeiros a chegar eram sempre meus avós, depois os tios e, aos poucos, os coleguinhas de escola. O legal era ligar alto o som do Trem da Alegria e brincar de pega-pega dentro da piscina vazia. Era a única vez no ano que era possível reunir todo mundo que se ama, os avós, os tios, os primos, os pais, os amigos de escola, e todo mundo que você queria convidar.
Para criança, o bom são os presentes. Mas a melhor parte deles era rasgar todo o papel e jogá-los embaixo da cama (porque diziam que dava sorte) e depois deixar todos os presentes expostos ali em cima. O parabéns, o bolo, os docinhos, o bexigão e sacolinha surpresa completavam aquele dia, que sempre pareceu ser o melhor de todos!
Tudo isso se repetia anualmente, os coleguinhas mudavam, alguns tios e avós já não apareciam mais e deixavam saudades. Enfim, chegou o dia que meus pais perceberam que as festas de aniversário não cabiam mais em casa. Todo mundo já podia ir dormir mais tarde e queriam tocar violão até de madrugada. Um ou outro engraçadinho se jogava na piscina (dessa vez ela estava cheia). Então a festa deveria mudar de endereço, porque os pais também já não estavam mais tão novos para ficar acordados até tarde.
Na casa do vô podia rolar até as quatro. Os convidados enchiam a sala, a cozinha e até a garagem. Eu convidava todo mundo: os amigos de faculdade, amigos de escola, amigos de balada e conhecidos de show. O fim da noite era sempre igual. Eu e a Sarah catando os últimos pedaços de salgadinho grudado no tapete, a Michele e Carol lavando o vômito de alguém na garagem e o Ricardo e a Marina tocando aquela música do AC/DC na sala.
Teve até um ano, que na falta de uma, fiz duas festas de aniversário. No fundo, eu acho que era só desculpa, ou uma tentativa de se ter dois momentos mágicos em uma tacada só. Não lembro se deu certo. Mas valeu a lembrança.
Este ano não teve uma festa festança como havia antigamente, e até os amigos estranharam. Convidei o pessoal para tomar um saquê lá no bar do Rattin. Não era tão aconchegante quanto a casa do vô, nem tão mágico quanto a piscina vazia. Mas demos boas risadas e fomos dormir um pouco mais cedo que o habitual. Afinal, a idade não é mais a mesma. Para o ano que vem...não sei. Mas ainda tenho 360 dias para planejar!