domingo, 3 de maio de 2009

2006

Coisas que você queria saber sobre feminismo, mas não tinha pra quem perguntar.


Antes que fale qualquer coisa do gênero, é bom que fique bem explícito:
Feminismo:do Lat. feminas. m., sistema que preconiza a igualdade de direitos entre a mulher e o homem;

Portanto, não me venha com a história de que feminismo é machismo ao contrário, ok?

Podemos prosseguir então, a verdade é que sempre me senti uma a ovelha negra do movimento Riot Grrrl. Acho que porque sou contra todo e qualquer tipo de extremismos, e afins. Não sou adepta de revoluções drásticas, rebeliões, queima de sutiãs e tudo mais.

Assumidamente, faço regimes, uso maquiagem, tiro a sobrancelha, uso sainha, combino cores, um salto aqui ou ali, e tudo mais. Sempre me criticaram por isso, mas, eu do fundo meu coraçãozinho não acredito que as coisas conseguem ser mudadas com atitudes extremistas.

Acho que tudo no mundo vive em processo harmônico, lei da compensação, Lei de Lavoisier, Leis da física, Lei de ação e reação, uma ação minha acarreta em uma reação do próximo e assim por diante. Se eu der um soco em uma pessoa, não posso desejar receber um beijo em troca, o que eu faço eu recebo, e quase sempre, em dobro.

Para que, então, iria eu bater de frente com algo, se o que vou encontrar é só mais resistência? Eu penso que, o mundo está tão violento, que as pessoas não conseguem mais separar essas linhas de normalidade e brutalidade do comportamento humano, com a vida que a gente têm hoje em dia, putz, acordar e ver uma pessoa morta acaba sendo banalidade.

E agora, me dizem que eu deveria lutar contra padrões. E eu luto. No workshop sobre feminismo em Piracicaba, a Elisa nos pergunta, quem se considera feminista? Feminista nas ações mesmo, não na pose, mesmo nos pequenos detalhes. Eu parei um bom tempo pra pensar, e vi que eu não era como nenhuma daquelas meninas que estavam ali. Todas elas com suas namoradAs, usando roupas masculinas, gritando letras de harcore revoltadas, falando de união enquanto olhavam torto para mim e pro meu namorado. Se aquilo era ser feminista, eu definitivamente não sou. Nunca fiquei com outra garota, posso ter usado roupas masculinas, mas nunca com o intuito de realmente parecer masculina, já gritei letras de hardcore e hoje não acredito que apenas gritá-las seja suficiente, já falei em união sim, mas nunca olhei torto pra qualquer tipo de pessoa ou atitude.

Em compensação, nas poucas aulas que dou, falo para as meninas sobre conscientização e sobre não deixar o irmão mais velho, ou mais novo levar vantagens apenas por ser homem. Ensinei minha irmã a não se deixar submeter a qualquer atitude machista e principalmente a não ser submissa a irmão, pai ou namorado. Montei zines de auto-ajuda, que não tentavam modificar a massa e dizer coisas que todo mundo já está careca de dizer, mas tentava modificar a pessoa. E começar a considerar a menina como um produto do meio em que ela vive e a partir daí tentar modificar algo. Como chegar a uma menina de 14 ou 15 anos no pico da adolescência, com os hormônios a mil e falar para ela que tudo que ela gostou desde pequena não passa de um padrão para torná-la submissa à própria sociedade em que vive? Que as bonecas que ela brincava na infância eram estereótipos de beleza, que criavam na mente dela parâmetros de beleza associado a supremacia; ou que seu ídolo, seja quem for, por exemplo, a Sandy, era apenas um modelo de submissão para que ela se tornasse apenas mais uma, como dizer isso ?

Diretamente? Não! O choque é grande, e as raízes são muito mais profundas. Por isso eu prefiro acreditar que as melhores formas para se modificar algo nesse mundo é utilizar-se das mesmas ferramentas, partimos de algo em que ela acredita para mostrar algo que vai além do que ela já tenha visto.

Já chegaram a me dizer que os festivais que eu faço são apenas fachada, que eu me utilizo de roupagens feministas para atrair público e por fim, não faço mais do que política de pão e circo. E digo, que quem diz isso parte dos mesmos extremismos que mencionei lá em cima, exemplos básicos para compreensão de fatos:

1) Uma menina acostumada a passar horas na frente da televisão assistindo MTV, venerando bandas de países que ela nem sonha existirem, sabe por meio de um amigo, que soube por um amigo, que viu algo em algum poste da cidade, que haveria um festival de rock em algum lugar. Ela vai até lá e vê rapazes tocando, e junto deles garotas, meninas da sua idade, ou mais velhas, ou mais novas, em cima do palco, tocando guitarra, cantando, então ela percebe que ela também poderia fazer isso, e por que não?

2) Uma menina inconformada com a forma que o pai trata a mãe ou a ela mesma, sai em um final de semana com seus amigos para curtir um festival de rock e acaba recebendo um zine, ouvindo alguém no palco falar, e percebendo a movimentação de garotas, se dá conta que o que acontece em sua casa, é o mesmo que ocorre em todas as casas, e resolve se unir ao movimento em geral e fazer a sua parte.

3) Essa é a sua história...

A minha história? Eu descobri que algo estava errado somente quando eu tomei o meu primeiro pé-na-bunda daqueles bem doloridos. Somado a isso, algum amigo me mostrou uma fita de uma banda revoltadinha, eu me identifiquei, e comecei a ver que as coisas eram maiores do que elas realmente são. E tentar acabar com tudo em um só, com um só grupo de garotas, com uma só bandeira, um música, é impossível!

O que eu posso fazer? É escrever um texto, para 2 ou 3 pessoas que talvez pensem sobre ou isso, ou talvez não. E dizer que pouco a pouco, eu tento fazer a minha parte.

Nenhum comentário: