Caixa vazia
Centro da cidade. Meia noite e vinte e seis. Um pequeno bar. Mesa à direita. Ela balançava, freneticamente, as pernas, e olhava incansável para todos os lados, procurava algo para agarrar-se.
Naquele momento, sentia-se como uma náufraga em meio a um grande oceano, cansada de nadar, sem bóias para se apoiar, e sem saber para que lado gritar.
Era um vazio interno, a cabeça e o coração, e neste instante, ela procurava algo que pudesse suprir algo tão grande que ela não tinha.
As mesas ao lado, cheias de pessoas sorrindo, tantas pessoas e a cadeira ao seu lado vazia. Como tudo ultimamente. Não que ela não tivesse amigos, ou família, mas é que, naquele momento, nada seria capaz de preencher a confusão de suas idéias.
Ela procurava alguém para repartir as indecisões, as dúvidas e as tristezas, então, olhava para todos os lados. Ele pode ser o próximo rapaz que vai entrar pela porta...e se o guardanapo cair, ela se abaixar, ele passar, ela não não ver, e o homem que ela esperava passa desapercebido? Disso, ela tinha medo. De deixar as oportunidades escaparem, e também, como saber qual é a oportunidade certa?
O velho de trás do balcão do bar a olhava, o jovem na mesa de sinuca a observava, o rapaz da mesa ao lado sorria incessantemente para ela. E ela...sabia que poderia ter todos eles, e até mesmo o homem que acabara de sair do banheiro, talvez até, o garoto que beijava a namorada no canto esquerdo do bar. Ela poderia ter quem quisesse, mas, não queria ninguém.
Tanta gente ali, naquele momento, mas ninguém capaz de despertar seu desejo, seu interesse ou sua simpatia.
Era começo do ano, e sua vida mudara tanto em tão pouco e tão curto tempo, que não havia rumo, e ela não sabia nem mais do que gostava. Se preferia a cor preta, a roxa ou a cor-de-rosa, se gostava de chocolate ou limão, e como tomar decisões quando nem se sabe do que se gosta, quando nem se sabe quem é?
Pensou em levantar-se ir ao banheiro e perguntar ao espelho: Quem é você?
E por que ela tinha que responder isso agora? Ela tentou durante anos soterrar seus desejos frustrados, em sucessos banais, e ai? Do que adiantou? Eles continuam batendo na porta todo final do dia.
A rotina mata os nossos sonhos, e ela tinha medo de acabar com todos eles de uma vez por todas, afogá-los num emprego monótono, num salário baixo, num relacionamento sem paixão e em muitas outras noites de bar, mesa, pessoas olhando e coração vazio.
Ela lutou tanto por tudo que quis, e acaba apulhada por algo aquém de suas mãos. O vestibular, a faculdade, o dinheiro...parecia que o destino, vagarosamente, a levava para o caminho oposto. Ela tentava nadar contra as correntezas, mas era tão difícil...
A formatura era na semana que vem, e o que seria desse ano? Tudo que ela sempre quis, caiu por terra. E agora, o que Lea queria mesmo? Estava tudo tão confuso.
O menino da mesa de sinuca levantou-se, chegou em frente dela. O rapaz da mesa ao lado perdeu o sorriso, e o velho do bar parou de olhar. Ela já previa o que ele iria falar, ela levantaria, jogaria uma ou duas partidas, conversaria com ele, se surpreenderia com a idade mínima do garoto, o beijaria, diria duas ou três palavras de carinha. Trocariam os telefones, iria para casa, e nunca mais o veria.
E é assim, o ciclo dos corações vazios. Têm-se qualquer um, menos quem realmente se quer, e quem se quer, ainda não apareceu. E poderia não aparecer nunca.
Quem sabe, o garoto não seria sua bóia. ¿Joga uma partida?¿ Não. O mundo é previsível demais. Assim como as novelas da TV e os filmes americanos, mas na vida, o final não é tão feliz como nos contos.
Se ele, ao menos, tivesse perguntado o nome dela antes. Talvez ele fosse o cara certo. O melhor, é sempre fazer o oposto do que esperam que você faça, a surpresa é sempre o maior presente.
Então, ela pensava em fazer tudo ao contrário do que esperavam que ela fizesse, mas, no momento, ela nem sabia o que esperavam, quanto mais o oposto disso.
Tudo tão, tão disperso e confuso. Ela queria tanto entender porque o coração manda tanto em nossas cabeças, em nosso humor e em nossa vontade. E por mais que tentasse, não conseguia fazer o coração bater como batia há alguns anos. Sentir o frio na barriga, a mão suando, a ansiedade, a saudade.
Tudo se fora com a última desilusão, e parecia que não voltaria nunca mais.
Que carreira seguir? Que trabalho batalhar? De quem gostar?
Os ponteiros do relógio se mexiam cada vez mais rápido. As escolhas precisavam ser feitas.
¿Qual seu telefone? Preciso ir. Me liga. Tchau.¿
Viver o mesmo, da mesma forma em dias diferentes.
Quem é você?
domingo, 3 de maio de 2009
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